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todo especial para os funcionários do conta a importância da expansão do bilhões anuais do superávit primário
Banco Central. emprego público. Segundo ele, as esta- para financiar dispêndio público em
tísticas do pós-guerra sobre a evolução saúde, educação, habitação popular,
O PAPEL DO SERVIDOR do mercado de trabalho nos países de- saneamento, segurança e defesa.
NA SOCIEDADE senvolvidos mostram claramente que
o crescimento do emprego público, Se Lula tivesse a coragem de to-
A primeira pergunta que se faz nos momentos de crise, alavancou a mar tal atitude, ninguém mais (a não
quando se pensa em servidor público economia desses países. ser os liberais, claro) teria dúvida de
deve ser: qual é o Estado que que- que serviço público é investimento,
remos? A resposta a essa pergunta, O economista José Carlos de Assis, e não gasto.
evidentemente, não é fácil, mas, de um dos criadores do site Desempre-
acordo com o pesquisador Eneuton go Zero, também pensa assim. Ele
Pessoa, a sociedade deveria levar em defende que o governo use os R$ 70
por Humberto Martins para a formula- buiria para restabelecer a dignidade e a ministeriais.
ção do Plano “Gestão Pública para um credibilidade da função pública perante O fato é que, alojando-se na Casa Civil,
Brasil de Todos”. De agosto a outubro, a sociedade.
foram elaborados a metodologia de Martins entendeu que o Plano de Gestão
diagnóstico, o modelo de gestão e os DANÇA DAS CADEIRAS poderia, enfim, sair do papel. Mas havia um
procedimentos que iriam regular as No dia 20 de janeiro, o Ministério senão: Guido Mantega não queria perder
redes de sustentação do Plano, que a Secretaria de Gestão. Na viagem com o
funcionaria com 1.500 servidores em do Planejamento informou a Martins presidente Lula à Índia, o ministro ameaçou
300 organizações para acompanhar que a proposta do Plano de Gestão demitir-se caso esta ficasse mesmo na
e avaliar, até 2007, as mudanças na deveria ser “desconstruída”. Três dias Casa Civil. Lula, então, determinou, no dia
administração federal. depois, em meio a intensos rumores 6 de fevereiro, o retorno da Secretaria de
sobre a reforma ministerial, o gover- Gestão para o Ministério do Planejamento.
Profissionalizar e engajar o servidor no editou a Medida Provisória 163,
público fazia parte da agenda de seis transferindo a Secretaria de Gestão As conseqüências? Humberto Mar-
eixos de mudanças previstas pelo Plano. do Ministério do Planejamento para a tins pediu sua exoneração no dia 9 de
No diagnóstico inicial, Martins e sua Casa Civil. Não se sabe ao certo qual fevereiro e, até hoje, o Ministério do
equipe concluíram que há “confusão as razões dessa MP. Em tese, deixar o Planejamento não se pronunciou a
entre cargos e carreiras, o que leva à monitoramento da área de gestão sob respeito, nem mesmo em relação às
verticalização e surgimento de deman- a responsabilidade da Casa Civil fazia críticas do ex-secretário, que afirmou em
das por carreiras específicas, modelo de sentido em função do poder político alto e bom som que a agenda do mi-
cargos comissionados excessivamente e da visão estratégica de José Dirceu. nistro “é quase inteiramente drenada
aberto nos níveis de direção interme- Há versões, porém, que atribuem a pelas questões orçamentárias”.
diária (DAS 4 e 5) e acentuado hiato transferência à necessidade de manter
remuneratório de altos dirigentes”. A a Secretaria de Gestão nas mãos do Entre o dito e o não dito, fica a
reversão dessas distorções, de acordo PT, caso o Ministério do Planejamento impressão de que, como disse Martins
com o Plano, além de melhorar a qua- fosse entregue ao PMDB na dança de na sua carta de demissão, a moderniza-
lidade da Administração Pública, contri- cadeiras desenhada pelas mudanças ção da administração pública continua
sendo tratada na base da barganha de
competências.
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